FICHAMENTO - Peter Singer, Valore ambientais por Gabriela Andrade

 
O primeiro questionamento apresentado pelo autor é a necessidade de construção da represa citada no exemplo prático do rio Franklin, no sudoeste da Tasmânia. (p.1) Na introdução, ele expõe que o objetivo do capítulo é explorar os valores que fundamentam os debates sobre essas decisões ao explicar que a sua pretensão é concentrar-se nos valores em pauta nas discussões sobre a preservação das regiões selvagens, pois aí é que se tornam flagrantes os valores radicalmente distintos adotados pelas partes envolvidas. Quando se discute a inundação do vale de um rio, a opção diante de nós é completamente clara. (p.2) Para analisar os valores ambientais em questão, o autor retoma a tradição ocidental. Os exemplos utilizados são as tradições grega e hebraica. Ambas transformam os seres humanos no centro do universo moral – não apenas no centro, mas praticamente na totalidade das características moralmente relevantes deste mundo. (p.3) Aristóteles, por arquétipo, considerava a natureza como uma hierarquia na qual os menos dotados de capacidade de raciocínio existiam para benefício dos mais dotados. (p.4) Já Tomás de Aquino defendia que não havia possibilidade de pecados contra os animais não humanos ou contra o mundo natural. Na tradição ocidental dominante, portanto, o mundo natural existe para benefícios humanos. (p.5) O autor se volta para um aspecto imensamente importante dos valores ambientais: a valorização do futuro, um forte argumento em favor da preservação, que adquire ainda mais força quando adotamos uma visão em longo prazo. (p.6) “Os ganhos decorrentes do corte da floresta – geração de empregos, lucro com negócios, dividendos de exportação, e barateamento do papelão e papel de embalagem – são ganhos de curto prazo.” Portanto, os ambientalistas se referem à mata nativa como uma “herança planetária”. Dessa forma, é complicado justificar a destruição de uma antiga floresta sob a alegação de que ela nos dará um lucro substancial em exportação, mesmo que pudéssemos investir aquele rendimento e aumentar eu valor a cada ano; pois não importa quanto o valor subisse, esse dinheiro não poderia jamais comprar de volta o vínculo com o passado representado pela floresta. (p.7) O autor incentiva o encorajamento às futuras gerações a se sensibilizarem ante a natureza; “se ao final preferirem jogos de computador, então teremos fracassado”. (p.9) Ele questiona a limitação a uma ética centrada no ser humano, defendendo que o crescimento econômico baseado na exploração de recursos não-renováveis pode ser visto como algo que traz lucros à geração presente e, possivelmente, a uma ou duas gerações posteriores além desta, a um preço que terá de ser pago por todas as gerações posteriores. Ou seja, o preço a ser pago pelos futuros seres humanos é alto demais. (p.10) Não será, por conseguinte, uma nódoa na civilização humana ignorarmos essas necessidades dos animais não-humanos para satisfazermos nossas próprias necessidades menos relevantes? O autor ratifica que não há exigência de que consideremos a morte de um animal não-humano como moralmente equivalente à morte de um ser humano, já que os humanos são capazes de formas de visão prospectiva e de planejamento futuro que não estão presentes nos não-humanos. De volta ao primeiro questionamento, quando a construção de uma represa vai inundar um vale e matar milhares, talvez milhões, de criaturas sencientes (dentro da perspectiva de que existe valor para além dos seres sencientes) a essas mortes deveria ser atribuída grande importância, em qualquer avaliação de custos e benefícios da obra. (p.12) Segundo Paul Taylor, toda coisa viva está “em busca de seu próprio bem, de uma maneira exclusiva a ela”. (p.15)
 
Em sua conclusão, o autor diferencia a Ecologia Profunda da Ecologia Superficial, sendo esta limitada ao tradicional quadro de referencia moral; em os adeptos ansiavam por evitar a poluição das reservas de água, de modo a termos água limpa para beber, e buscavam preservar a floresta para que as pessoas pudessem continuar a desfrutar caminhadas na mata. Por outro lado, a Ecologia Profunda pauta a sua ideologia na idéia de preservar a integridade da biosfera pelo próprio mérito da questão, à parte os possíveis benefícios que essa atitude podia trazer para os seres humanos. (p.16) Os princípios para uma ética da ecologia profunda são: o bem-estar e o florescimento da vida humana e não humana na Terra têm valor em si mesmos – esses valores são independentes da utilidade do mundo não-humano para objetivos humanos; a riqueza e diversidade das formas de vida contribuem para concretizar esses valores e são também valores em si mesmos; os seres humanos não têm o direito de reduzir essa riqueza e essa diversidade, exceto para satisfazer necessidades vitais. (p.17) Na opinião do autor, os argumentos que têm interesses dos seres humanos presentes e futuros, e os interesses dos sencientes que habitam a floresta são suficientes para mostrar uma sociedade onde ninguém precisa destruir a floresta valorizar a preservação do que resta das áreas significativas da mata. (p.19)