Resenha critica: A vingança cotidiana e processual de Gaia - Por Ilisson Santos

 
A vingança cotidiana e processual de Gaia[1]
Ílison Dias dos Santos[2]
Dentre os temas hodiernos, talvez um dos que mais mobilizem discursos seja a temática da crise ambiental, não apenas pela estreita ligação que toda a humanidade possui com essa questão, mas, sobretudo, pela diversidade teórico-ideológica de discursos que o mesmo reverbera.
Perante um verdadeiro oásis de teorias analíticas da crise ambiental, destaca-se a chamada “Vingança de Gaia” do inglês James Lovelock, desenvolvida na década de 60, quando ele ainda trabalhava para a Agência Espacial Americana – NASA. Segundo essa teoria, Gaia (a Terra) seria um organismo vivo, pulsante, dotado de uma capacidade metamorfósica; um sistema ativo compromissado com todos os seres vivos e, não apenas, com o homem em si. “Gaia se refiere a um sistema autorregulado por la biota, las rocas, el océano y la atmosfera, em estrecha relación y no de manera independente como se consideró antes” (Hubp, 2007).
Destarte, de acordo com essa doutrina da crise ambiental o ser humano será eliminado do planeta Terra por sua ação ambiental negativa. Segundo Lovelock, um dos grandes vilões da vida na Terra é a chamada “Vingança de Gaia”, afirmação que ele diz ser metafórica, e não cientifica para apontar a situação ambiental gritante do planeta, é a produção de alimentos em larga escala para uma população mundial que em pouco mais de 200 anos saiu de 1 bilhão para mais de 6 bilhões de pessoas. Por tudo isso, segundo ele, a situação já é irreversível e se tornará impossível no final desse século.
A substituição das fontes de energias tradicionais campeãs em emissão de gazes tóxicos na atmosfera terrestre pela energia nuclear é apresentada como a medida paliativa mais eficaz ao adiamento da indubitável vingança de Gaia, carecendo para tal que a humanidade aprenda a confiar, uma vez mais, no bom funcionamento das usinas nucleares.
Não obstante, o desenvolvimento sustentável (DS) é visto pela doutrina de Gaia como uma ideia formidável, se aplicada fosse há 200 anos, quando a população mundial representava 1/6 dos componentes da atual nave Terra. Destoando dessa compreensão doutrinária, Nascimento (2012) apresenta o DS como uma das mais importantes ferramentas contributivas para o enfrentamento da crise ambiental. Todavia, é preciso alertar para as dimensões a se fazer presente no campo da sustentabilidade.
A primeira delas é a dimensão ambiental. Asseverando um consumo e produção dos recursos naturais de modo responsável e que não ultrapasse a capacidade de autorreparação do planeta, compreendendo o meio ambiente como provedor de recursos naturais intermitentes e respeitando a liturgia natural do meio ambiente.
A segunda dimensão é a econômica, calcada em um maior aproveitamento dos recursos naturais de forma responsável, perpassando ainda por um aumento constante da eficiência na produção e no consumo.
A partir das discussões externadas nos encontros de Estocolmo (1972) e Rio (1992), surge com veemência a dimensão social do DS, ancorada no relatório Only one eart (Switzerland, 2012) que defendia a justiça social e via a detenção dos recursos naturais de forma a lesar terceiros como algo injustificável.
Não se pode olvidar que a dimensão política e cultural é membro permanente do DS, afinal é inegável que todas as dimensões possuem pontos de contatos com as relações de poder existentes nos mais diversos meandros societais, sendo o aspecto “culturas” o fomentador das novas relações entre homem e meio ambiente.
Vale relembrar ainda a contribuição de Saches (2007) acerca da dimensão educacional, segundo esse doutrinador, defensor de um novo modelo de Economia, mais sustentável e voltada para uma convivência harmônica com o meio ambiente, a educação ambiental é instrumento inquestionável para a construção de uma mentalidade humana compatível com as exigências descortinadas a partir da crise ambiental.
Para concluir, faz-se necessário reafirmar a diversidade teórica que o tema crise ambiental suscita no mundo intelectual, trata-se de um campo científico absolutamente vasto, com trabalhos acadêmicos dos mais variados graus intelectuais que travam verdadeiros embates no campo das ideias na defesa de suas ideologias e parâmetros científicos. Nesse sentido, todos terminam por contribuir para diagnosticar e/ou intervir na crise ambiental que muitos acreditam nem existir, mas que é sinalizada através da vingança cotidiana e processual de Gaia.
 
Referências
HUBP, José Lugo. La venganza de la tierra: la teoría de Gaia y el futuro de la humanidad. Onvestigaciones Geográficas, México, v. 064, n. 15, p.168-169, 13 nov. 2007. Anual. Disponível em: <http://redalyc.uaemex.mx/src/inicio/ArtPdfRed.jsp?iCve=56906414>. Acesso em: 26 nov. 2012.
NASCIMENTO, Elimar Pinheiro do. Trajetórias da Sustentabilidade: do social ao ambiental, do social ao econômico. Estudos Avançados, São Paulo, v. 74, n. 26, p.51-64, 22 jan. 2012. Anual. Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0103-40142012000100005&script=sci_a.... Acesso em: 22 nov. 2012.
SACHS, I.  rumo à socioeconomia – teoria e prática do desenvolvimento. São Paulo: Cor -tez, 2007.
SWITZERLAND. Bulletin Of The World Health Organization (Org.). Planet Earth, getting too hot for health? Bull World Health Organ, Geneva, v. 79, n. 11, p.01-10, dez. 2001. Disponível em: <http://www.scielosp.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0042-96862001.... Acesso em: 25 nov. 2012.
 

[1] Resenha crítica acerca da crise ambiental, tomando como ponto de partida a teoria de Gaia de James Lovelock. Texto solicitado pelo Professor Dr. Heron Santana do Componente Curricular Direito Ambiental.

[2] Acadêmico do Bacharelado Interdisciplinar em humanidades com área de Concentração em Estudos Jurídicos e Bolsista de Iniciação Científica do CNPq.